Muitos conhecem a neurotoxina botulínica, popularmente chamada de Botox, como um medicamento injetável de uso estético que visa suavizar as rugas e os vincos faciais. Já abordamos aqui no Olhar Digital que a substância também serve para tratar certas patologias e aliviar sintomas de algumas doenças neurológicas. Agora, um artigo publicado este mês na JAMA-Otolaryngology-Head and Neck Surgery relata que a toxina pode ser útil no tratamento de problemas na fala, melhorando o convívio social das pessoas, especialmente no ambiente do trabalho.
De acordo com o site Medical Xpress, a disfonia espasmódica (DS) é uma condição neuromuscular rara que faz a voz das pessoas soar “estrangulada e rouca”. Durante anos, médicos vêm usando injeções de neurotoxina botulínica (clinicamente chamada de BoNT e popularmente de Botox) para suprimir os espasmos musculares na laringe dos pacientes.
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Normalmente, uma aplicação faz uma voz desordenada parecer mais límpida por um período de três a seis meses, e então o efeito da droga passa e outra injeção é necessária.
Apesar do benefício ser bastante evidente, norte-americanos têm precisado “lutar para obter autorização de tratamento dos planos de saúde, que apresentam resistência devido à escassez de evidências científicas do valor da BoNT”, segundo Tanya Meyer, otorrinolaringologista da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em Seattle.
Meyer é a autora principal do estudo que aborda a importância do tratamento para melhorar significativamente a capacidade dos pacientes com problemas de fala de serem produtivos no local de trabalho.
“Falar é essencial para se comunicar na maioria dos empregos”, disse Meyer. “Pessoas com DS não conseguem abrir a boca e saber com certeza qual voz, se houver, vai sair; às vezes, a laringe fecha com espasmos. É difícil projetar nas reuniões, e as vocalizações podem soar ansiosas ou nervosas, mesmo se a pessoa estiver confiante. Para ouvintes não acostumados, é difícil entender esses falantes”.
Grupo relata melhora de 30% na produtividade no trabalho após tratamento
Participaram do estudo 75 pacientes com a doença, que preencheram questionários validados imediatamente antes de uma injeção de BoNT e, novamente, 30 dias depois.
Foi solicitado aos entrevistados que avaliassem sua produtividade relacionada à voz no local de trabalho e nas atividades não laborais.
No geral, o grupo relatou uma melhora de 30% na produtividade do trabalho um mês após o tratamento. A melhoria nas atividades fora do trabalho também melhorou, mas os participantes relataram uma diferença maior de melhoria no trabalho do que fora do trabalho.
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Segundo Meyer, a maioria dos indivíduos eram pacientes estabelecidos que receberam injeções a cada três a seis meses durante vários anos. “Todos eles começaram o estudo com vozes melhores do que antes de receber as injeções de Botox”, disse ela. “Os pacientes geralmente não permitem que sua voz se deteriore em sua condição de pré-tratamento entre as injeções. Portanto, pensamos que os pacientes que não receberam o tratamento podem experimentar uma melhora ainda maior do que o estudo mostrou”.
Meyer reconhece que a falta de um grupo de controle de pacientes recebendo placebo ou tratamento simulado impede os pesquisadores de afirmarem que as injeções de Botox causaram a melhora.
“Os médicos e as seguradoras precisam entender que, quando os pacientes têm uma voz desordenada, eles geralmente sofrem no local de trabalho. Muitas pessoas mudam de emprego ou simplesmente param de trabalhar porque sua voz desordenada torna a comunicação muito difícil. Embora não possamos atribuir causalidade, este tratamento é fortemente parece ajudar as pessoas a se comunicarem e a se manterem empregadas de forma produtiva – e longe da deficiência”, acredita a médica.
Ela acrescenta: “Essas pessoas estão recebendo uma injeção diretamente na laringe. Não é confortável. Ninguém faria isso se não funcionasse”.
A disfonia espasmódica afeta aproximadamente quatro entre 100 mil pessoas, e sua causa é desconhecida. As mulheres têm quatro vezes mais chances de desenvolvê-la do que os homens. O início da doença geralmente ocorre entre os 40 e 60 anos.
“Pode ser incapacitante para a carreira de qualquer pessoa. Essas pessoas não são escolhidas para promoção, são preteridas para empregos”, disse Meyer. “Esperamos que essas descobertas mostrem as verdadeiras melhorias para a sociedade que esses tratamentos podem trazer”.
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