Artigo da responsabilidade do Dr. Tiago Bilhim, médico radiologista de intervenção no Hospital CUF Tejo
Os fibromiomas uterinos podem condicionar diferentes tipos de sintomas que requerem acompanhamento médico para recuperação da saúde e da qualidade de vida. Quando crescem para a cavidade uterina ou estão na parede do útero podem levar a hemorragia uterina anómala (HUA). A HUA pode ser durante o período menstrual, com muitos dias e grande volume de perda de sangue. Em casos extremos, quando a hemorragia é muito abundante, pode levar a anemia, com redução dos valores de hemoglobina no sangue.
Nestes casos, é frequente a sensação de cansaço, fadiga extrema e inércia. A HUA também pode ser fora do período menstrual. Outros sintomas que os fibromiomas uterinos podem condicionar são as dores pélvicas, frequentemente mais intensas durante o período menstrual. Geralmente são descritas como cólicas, com dores intermitentes e que, frequentemente, requerem analgesia.
Quando os fibromiomas crescem para fora da parede do útero ou quando são muito grandes podem levar a aumento do volume abdominal e compressão dos restantes órgãos pélvicos. Nestes casos é frequente a sensação de “barriga cheia” ou “distensão abdominal” e quando a bexiga é comprimida pode haver queixas urinárias, com necessidade constante de ir à casa de banho.
Se apresentar algum destes sintomas, mesmo em tempo de pandemia, não deve adiar a avaliação médica. Devem-se manter as rotinas de saúde e realização de exames de diagnóstico e tratamentos quando indicados.
Quais as diferentes opções de tratamento dos fibromiomas?
O tratamento médico deve ser sempre a primeira abordagem com recurso a diferentes pílulas, tratamentos hormonais ou dispositivos com progesterona. Infelizmente, frequentemente não é suficiente e são necessários tratamentos invasivos.
As opções cirúrgicas convencionais são duas: a histerectomia que consiste na remoção cirúrgica de todo o útero e a miomectomia que consiste na remoção cirúrgica dos miomas. Pode ainda ser colocada a opção de embolização – uma opção de tratamento minimamente invasiva, alternativa à cirurgia, que surgiu há 30 anos e que permite, de uma forma menos invasiva, tratar os miomas. Os resultados são muito semelhantes aos da miomectomia, permitindo preservar o útero e tratar os miomas.
O que é a embolização uterina?
É um cateterismo. Ou seja, introduz-se um pequeno tubo de plástico com 1mm de diâmetro (cateter) por uma artéria do punho ou virilha. Guiados por sofisticados equipamentos de imagem médica, os radiologistas de intervenção conduzem o cateter até às artérias uterinas que vascularizam (alimentam) os fibromiomas uterinos. Como os fibromiomas uterinos são tumores benignos muito vascularizados, o tratamento consiste em bloquear as artérias que alimentam os fibromiomas uterinos. Para isso, com recurso ao cateter, são injetadas umas partículas de embolização que vão bloquear o aporte de sangue aos fibromiomas. Assim, os miomas ficam tratados, “morrem” ao deixar de ter aporte sanguíneo e o útero é poupado.
Como é a recuperação depois da embolização?
Uma das grandes vantagens da embolização uterina quando comparada com a cirurgia, é que permite uma recuperação mais rápida, com menos dores e menos riscos de complicações. A embolização propriamente dita é muito rápida, durando 30 a 40 minutos e não condiciona dores durante o tratamento. Poderá haver dores, náuseas ou vómitos nas 4 a 6 horas após a embolização, chamado o síndrome pós-embolização. Estes sintomas são controlados com a medicação, permitindo que a maioria das senhoras possa ter alta no próprio dia.
Qual o seguimento após a embolização?
Após a embolização uterina, é feita uma consulta de seguimento no primeiro mês para avaliar a recuperação após o tratamento. Aos 6 meses após a embolização, é repetida uma Ressonância Magnética pélvica que foi realizada antes da embolização. Desta forma, é possível quantificar o grau de isquémia (“morte”) dos miomas e a redução de dimensões dos miomas e do útero. Na maioria dos casos o útero reduz para metade do tamanho inicial e os miomas reduzem para 30%-40% do volume inicial. São realizadas, ainda, análises ao sangue para avaliar a condição geral e, nos casos de anemia, se já está tratada.