O relato de uma psiquiatra ao The Wall Street Journal sobre o caso de um paciente com quadro de dependência em jogos levantou a questão sobre como o excesso de dopamina pode afetar nosso corpo. Anna Lembke, chefe da Stanford Addiction Medicine Dual Diagnosis Clinic da Stanford University, afirma que o neurotransmissor presente de forma excessiva pode levar à depressão e ansiedade.
A dopamina é responsável por levar informações para várias partes do corpo e se relaciona com diversas funções do organismo, inclusive a sensação de prazer e humor. O Dr. Hermano Tavares, coordenador do Programa de Transtornos do Impulso do IPq da USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo) explica que, quando realizados atividades prazerosas, incluindo jogar video games, liberamos o neurotransmissor.
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Relação entre dopamina e depressão
“Um estímulo, seja ele qual for, ele tem a propriedade de formar hábito ou intrinsecamente gratificante, pelo menos ele estimula a liberação de dopamina. Uma vez formado o hábito, a pessoa que continuar tendo a exposição massiva isso pode virar dependência”.
Lembke afirma no artigo que “assim que a dopamina é liberada, o cérebro se adapta a ela reduzindo ou ‘regulando para baixo’ o número de receptores de dopamina que são estimulados. Isso faz com que o cérebro se estabilize inclinando-se para o lado da dor, razão pela qual o prazer é geralmente seguido por uma sensação de ressaca ou queda. Se pudermos esperar o tempo suficiente, esse sentimento passa e a neutralidade é restaurada”.
De acordo com Tavares, a dopamina tem relação com a dependência e nesses casos ela fica desregulada no organismo. No entanto, essa dependência de games ou das redes sociais muitas vezes pode ser causada por quadros de ansiedade. “Em uma fase em que a pessoa está mais triste, para baixo, ela fica mais vulnerável a dependência em jogos e outros estimulantes”, explica.
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De acordo com a nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), distúrbio de games vai passar a ser considerado um problema de saúde mental em 2022, quando o novo manual deve passar a valer. A classificação por parte OMS visa ajudar governos, agências de saúde e pais a identificar riscos e promover tratamentos a esse distúrbio.
Sobre o tratamento, Tavares reforça que é importante entender os fatores que levam o paciente a chegar naquele nível de dependência de games. A partir daí começa a se regular a dopamina e o tempo de tela do paciente. O tratamento pode ainda contar com o uso de medicamentos. “Genericamente podemos dizer que quadros de dependência possuem outros quadros de doenças psicológicas, cerca de três quartos eu diria. Agora dizer que o excesso de dopamina causa depressão, não acho que seja para tanto”, explica o médico.
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